Um jogo milenar

Recentemente, um aluno do Colégio ganhou o primeiro lugar na categoria sub 12 de um importante campeonato interescolas de Xadrez. O jogo, provavelmente surgido na Índia, que desde 1561 é praticado com as peças e as regras que conhecemos hoje, tem atraído cada vez mais o interesse de crianças e jovens. No Campeonato Paulista de Xadrez Escolar sediado pelo Santa Cruz, em 2019, por exemplo, recebemos representantes de mais de 80 escolas da capital e do interior do estado de São Paulo, totalizando quase 500 jogadores.

Para saber mais sobre o jogo, que recentemente ganhou até série de sucesso na Netiflix, “O gambito da rainha”, conversamos com Davy D’Israel, representante da empresa Xeque & Mate e professor da atividade complementar de xadrez no Ensino Fundamental. “Aprendi a jogar aos 14 anos de idade, em um colégio interno em Israel, país onde vivi alguns anos. De lá para cá, nunca mais deixei de estudar e praticar. O Xadrez me deu a possibilidade de viajar e jogar em vários países e fazer amizades com pessoas incríveis. Aos 19 anos, comecei a dar aulas e descobri a minha paixão pelo ensino”.

Como e onde surgiu o jogo?

Ao que tudo indica, surgiu na Índia. O Xadrez seria a combinação de outros dois jogos:
O Chaturanga – jogo de guerra praticado na Índia envolvendo dados e, portanto, o fator sorte, e a Petteia – jogo grego de lógica e estratégia, no século VI A.C.
O jogo sofreu várias alterações tanto na composição e movimentação das peças quanto nas regras. A partir de 1561 o jogo passa a ser praticado com as peças e as regras que conhecemos hoje.

A partir de que idade pode-se aprender xadrez?

Não há uma idade certa para aprender a jogar. Cada caso é diferente e, muitas vezes, crianças de 4 a 5 anos demostram interesse e curiosidade pelo jogo. Cito como exemplo o meu neto de 5 anos que ao me ver dando aulas pela internet demonstrou interesse e em pouco tempo aprendeu o movimento de todas as peças. Na grande maioria dos casos, uma boa idade para iniciar é a partir dos 6, 7 anos. É como aprender um idioma novo, quanto mais cedo, melhor!

Qual o melhor método para ensinar?

Não existe um único método para ensinar o jogo de xadrez. O importante é manter a criança motivada e envolvida. Nesta idade, é preciso criatividade: inventar brincadeiras e pré-jogos simples como por exemplo a “guerra dos peões”.
Em sala de aula, usamos vários recursos, desde o tabuleiro com peças, momento em que o aluno pode jogar com seu amigo de sala, até recursos audiovisuais, como quando projetamos na tela o tabuleiro para explicar uma regra ou alguma estratégia. O “Chessity”, espécie de livro de xadrez, porém, virtual, é outro recurso importante. O aluno pode resolver exercícios em sala de aula ou em casa a partir da conta adquirida ao se matricular no curso.

Que habilidades o xadrez desenvolve no jogador?

O xadrez desenvolve e trabalha inúmeras habilidades cognitivas, mas, também, socioafetivas. Trata-se de uma poderosíssima ferramenta pedagógica cujo estudo e prática sistemática traz enormes benefícios para o indivíduo.
Existem vários estudos científicos reportando melhora na atenção, concentração, criatividade e raciocínio logico.

O Brasil tem tradição no jogo?

O Jogo de Xadrez não tem tradição em nosso país. A falta de políticas públicas e incentivos não ajuda muito.
Mesmo assim, estamos avançando aos poucos e cada vez mais o xadrez faz parte da realidade nas escolas. A Prefeitura de São Paulo faz um bom trabalho capacitando professores que ministram aulas em algumas unidades do C.E.U., mas o trabalho é pouco divulgado. Acredito que o acesso à internet e à informação, aliados ao trabalho de professores e treinadores, o processo para tornar o jogo mais popular seja irreversível.

Você sente um interesse maior entre os jovens ou o xadrez ainda é visto como um jogo de “gente mais velha”?

Esta é uma questão interessante e não tenho nenhuma dúvida quanto à resposta: O xadrez pertence à sala de aula. O primeiro campeão mundial, o austríaco Wilhem Steinitz, conquistou o título em 1886 aos 50 anos de idade. De lá para cá, a idade dos campeões mundiais foi decrescendo e o atual conquistou o título com apenas 22 anos. Em breve, teremos campeões com 17, 18 anos, uma vez que já temos crianças de 11 anos com o título de Grande Mestre. Isso mostra claramente que crianças e adolescentes se interessam cada vez mais pelo jogo.

O que um jogador precisa ter para se destacar nas competições, como é o caso de nossos alunos?

Na minha opinião, o ponto mais importante é a paixão. Dito isso, estudo e treino vem como consequência e logo os resultados começam a aparecer. Não acredito no “talento”, mas, sim, no estudo e na dedicação séria.

Como ocorreram os campeonatos neste ano de pandemia?

Ao longo do ano tivemos inúmeros campeonatos de xadrez online. O Interband, organizado pelo Colégio Bandeirantes, e o Challenger, do Augusto Laranja, foram alguns torneios de destaque. Um de nossos alunos obteve ótimos resultados nos dois eventos, conquistando o título de campeão no primeiro e o de vice-campeão no segundo. Também tivemos I Circuito Infantil de Xadrez Online criado pela Xeque & Mate em março de 2020, que nasceu da impossibilidade de eventos presenciais em consequência da COVID-19. Por sorte, a modalidade estava preparada há muitos anos com plataformas incríveis que possibilita aos integrantes jogar partidas online 24 horas por dia, com jogadores do mundo inteiro. Além disso, a plataforma possui um sistema para organização de torneios virtuais com até 1000 participantes jogando simultaneamente. Vários alunos do Colégio Santa Cruz participaram, sendo que dois conseguiram se classificar para as Finas B, o que é uma grande satisfação devido ao nível dos participantes.

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