“Quando eu era pequeno, pedi de Natal aos meus pais um caminhão de madeira, eu queria um carregamento de madeira para fazer todos os meus projetos. Como não era possível, claro, meus pais me deram um carrinho de controle remoto. Não era o que eu queria, mas dava para usar a caixa para fazer os meus projetos”, conta, rindo, o aluno Guilherme Beyruti Surányi, da 3ª série do Ensino Médio. “Desde sempre eu quis entender como as coisas funcionam e como fazê-las funcionarem do jeito que eu queria”, completa.
O menino que sempre gostou de construir coisas acaba de ganhar três prêmios na 19ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), da Poli, USP. A FEBRACE é a principal mostra nacional de projetos de Ciências e Engenharia do ensino fundamental, médio e técnico do País.
A cerimônia de premiação foi transmitida dia 27 de março, ao vivo, pelo Youtube. Guilherme, que desenvolveu uma plataforma robótica submarina open source (código aberto) de baixo custo para o monitoramento de corais, levou o 1º Lugar em Engenharia, 2º Lugar em Mentalidade Marítima e Projeto selecionado para a Regeneron ISEF 2021 (feira internacional).
A ideia de inscrever o projeto do submarino na FEBRACE foi de Nathan Rabinovitch, professor da eletiva Santa Makers, cursada por Guilherme na 2ª série. “Essa eletiva é um espaço para concretizar projetos como o do Gui. Ele já chegou com uma ideia e a escola forneceu não só as máquinas e a orientação especializada dos professores, mas também uma rede de apoio. É pedagogicamente lindo e muito potente ver o aluno se desenvolver enquanto desenvolve seu projeto”, diz o físico, que também é inventor desde pequeno. Entre outras patentes, Nathan produziu um kit de robótica para quem quer sair do computador e colocar a mão na massa.
Os corais de Abrolhos
A inspiração para desenvolver um robô submarino surgiu em uma viagem da disciplina eletiva de Meio Ambiente, na 1ª séria do Ensino Médio, para Abrolhos. “Lá, eu acompanhei o trabalho de cientistas que monitoram corais para checar um fenômeno que chama branqueamento. O processo não me pareceu muito simples, então eu quis desenvolver uma plataforma, de baixo custo, que permitisse ao pesquisador mais do que apenas tirar fotos. Então eu coloquei no robô a possibilidade de usar sensores que permitem outros tipos de leitura que o ser humano não consegue fazer, como medir temperatura, luminosidade, raios UV. A coleta desses dados vai ajudar o pesquisador a entender como as mudanças ambientais estão afetando os corais”, explica Surányi.
Não é a primeira vez que Guilherme cria um robô pensando em solucionar um problema concreto, como quando a mãe de Surányi viu a notícia de que talvez faltassem respiradores por conta da pandemia e comentou com ele. “Eu estava cansado de criar protótipos para as competições de robótica e pensei: vou usar o meu conhecimento para ajudar as pessoas de algum jeito. Criei o protótipo de um respirador e doei para uma empresa ligada à Santa Casa, que agora vai seguir com todos os testes previstos nos protocolos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).”
Baixo custo
Tanto o respirador quanto o submarino foram desenvolvidos usando materiais básicos e fáceis de encontrar. “Todo mundo tem um jeito de tentar melhorar o mundo. O que eu sei fazer é montar projetos, mas se eu crio uma plataforma extremamente cara que ninguém vai ter acesso, pra uma tarefa que é para ser simples, não faz sentido nenhum porque não ajuda ninguém. A minha ideia é sempre criar uma coisa que seja democrática.”
Guilherme, que é frequentador assíduo da sala maker desde o 6º ano do Ensino Fundamental, conta que o perfil humanista do Colégio influenciou muito sua percepção do mundo e sua opção por projetos acessíveis. Nathan, endossa: “Gui sempre cria projetos do bem, que visam a melhorar o mundo de alguma forma. Ele é excelente tecnicamente, mas seus diferenciais são o comprometimento e a vontade de fazer as coisas.”