A 9ª edição das Noites Literárias, realizada em 2 de agosto, teve como convidados o autor do romance Torto arado, Itamar Vieira Junior, premiado e aclamado pela crítica, e os professores Marco Cabral e Fernanda Petrachin Gonçalves. O evento, que contou com a participação de mais de 200 pessoas, também integrou a agenda de ações antirracistas promovida pelo Colégio.
No encontro, o autor revelou que teve duas inspirações para escrever o livro. A primeira remete à história do próprio pai, que viveu em zona rural, em situação de moradia semelhante àquela que aparece na obra. A outra inspiração foi a professora de Literatura do Ensino Médio. Segundo ele, a professora Terezinha era uma apaixonada pela literatura e lhe apresentou autores brasileiros das gerações de 30 e 45: Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Jorge Amado.
O escritor declarou-se um leitor contumaz desde criança e disse que, desde que foi alfabetizado, não parou de ler e escrever, mesmo não tendo acesso a muitas obras.
Itamar contou ainda que, quando jovem, chegou a ter cerca de 80 páginas datilografadas da primeira tentativa de escrever a história do romance, mas o material foi perdido em mudanças. Para ele, essa fatalidade teve resultado positivo, pois foi obrigado a refazer tudo, anos depois, já com um olhar mais maduro, com outras vivências. Nesse sentido, sua atuação em comunidades rurais e sua formação em Geografia e Antropologia auxiliaram muito. No seu trabalho, constatou que “a escravidão não acabou, apenas ganhou outros nomes”.
Marco Cabral, na sua fala, destacou que o livro revela “o passado que não passou”, pois as marcas de nossa colonização ainda são visíveis nas relações sociais presentes no enredo. Itamar complementou, citando a frase conhecida de Millôr Fernandes: “O Brasil é um país com um passado pela frente”. Segundo o escritor, a violência não está só na superfície, está no tecido social do país há séculos.
No fim do evento, motivado por questões do público, o autor discorreu um pouco sobre o jarê, religião de matriz africana, mais conhecida na região da Chapada Diamantina. A prática religiosa é um componente muito importante no livro. Itamar destacou que o jarê, como forma de organização social, cria uma rede de proteção, capaz de impedir um sofrimento maior do povo.
Assista ao vídeo do encontro.