No meio do caminho, tinha uma montanha…

Um trabalho de fôlego, capaz de extrair dos alunos e dos professores da 3ª série do Ensino Médio preciosos resultados. Assim foi o “Projeto Mineração”, realizado ao longo do primeiro semestre letivo.

Impulsionado após a tragédia de Brumadinho, no início do ano, o projeto envolveu diretamente as disciplinas de Química, Biologia, Literatura e Geografia e contou com a participação de Produção Textual.

Mitiko, professora de Química, uma das idealizadoras do trabalho, afirma que o principal objetivo foi pensar a questão de uma forma estrutural, e não apenas conjuntural. Os alunos foram convidados a abordar a mineração em várias dimensões.

De início, foram definidos dois eixos principais: o das ciências humanas e o das ciências da natureza. Cada eixo apresentou cinco temas que poderiam ser pesquisados.

Na linha das ciências humanas, os temas propostos foram: História da mineração no Brasil e em Minas Gerais; O modelo primário-exportador brasileiro: permanências e transformações; Vale: fundação, desenvolvimento, privatização e atual composição; O mercado mundial de minérios; A natureza como recursos natural e a discussão sobre um possível Antropoceno.

Na linha das ciências da natureza, os temas foram: Mineração, rejeitos e barragens; Impactos decorrentes da exploração mineral; Impactos ambientais resultantes dos rompimentos das barragens; Saúde pública: o impacto na saúde da população local e apoio legal.

Carlos Drummond de Andrade foi usado como estímulo e sensibilização para a dimensão afetiva do trabalho. “Não basta ver planilhas e dados econômicos. Há pessoas que perderam familiares, amigos, bens, memórias, paisagens”, afirma André, professor de Geografia. “É importante perceber que é comum a população local ser excluída das decisões e que se estabelece uma relação perversa entre os interesses privados e os dos atingidos pelo desastre”, complementa Mitiko.

Cris Sucupira, professora de Biologia, chamou atenção para o paradoxo das cidades atingidas pelas tragédias. “A população não quer a retirada das empresas, pois, apesar de causarem destruição, dão emprego e movimentam a economia local”.

A pesquisa contou com algumas etapas. No primeiro momento, os grupos foram divididos por temas, de acordo com os interesses de cada estudante. De forma inédita, os grupos foram compostos por alunos de classes diferentes. Cada aluno realizou, então, uma pesquisa individual e formulou perguntas norteadoras.

Na segunda etapa, especialistas foram convidados para uma conversa. A geógrafa Joana Barros, a médica Evangelina Vormittag e o biólogo João Paulo Capobiano proferiram uma palestra e responderam às perguntas dos estudantes.

Na fase final, cada grupo reuniu as pesquisas individuais e produziu um site, com textos, fotos e vídeos.  Para os professores, era essencial que o formato do trabalho final conseguisse abranger diferentes linguagens e permitisse o compartilhamento.

Lucas Nascimento, professor de Laboratório de Biologia, reforça o êxito do projeto ao comentar o empenho da maioria dos alunos na pesquisa.

“Gostei muito do projeto! Foi muito importante os professores abrirem esse espaço para pensarmos sobre um assunto tão relevante como a mineração. Foi bem interessante trabalhar em grupo, pela liberdade e pela autonomia que o projeto dava, o que permitiu que a gente fizesse uma coisa realmente autoral! As discussões foram bem aprofundadas e gostei muito da ideia das dinâmicas. Enfim, achei um projeto muito bom por tratar de um tema interessante, incentivar o trabalho em grupo e a autonomia e aprofundar nossa capacidade de pensar e argumentar”, declarou a aluna Clara Prado.

Clara Angeletti dedicou-se ao tema de saúde pública. “Além de ser um assunto provavelmente cobrado no vestibular, o conhecimento e as discussões são extremamente relevantes para pensar o nosso contexto. O trabalho do meu grupo foi mais pragmático. Partindo da ideia de que, já que não podemos abrir mão da mineração e é extremamente difícil enfrentar as mineradoras poderosas, investigamos o que poderia ser feito para diminuir os impactos dessa atividade na saúde pública”, afirmou. Ela ainda apontou que gostaria de ter tido mais tempo para a troca dos aprendizados entre os grupos.

Para Rodrigo, professor de Literatura, o contato com Drummond no trabalho também contribuiu para facilitar a análise de parte da obra do poeta, estudado no segundo semestre.

Projetos assim reforçam o projeto pedagógico do Colégio, de promover a formação de cidadãos críticos, e estimulam reflexões e sensibilizações, que podem ajudar a derreter “o ferro das almas”.

Veja alguns dos trabalhos produzidos:

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