A ideia de aproveitar o período de isolamento social para ler pode parecer óbvia, mas, para alguns, é possível que não haja concentração ou que que seja preferível adiar as leituras mais complexas ou as distopias. Já para outros, a leitura aparece como uma ótima saída para manter a sanidade mental.
Como sempre, e agora não seria diferente, o ato de ler é vivido por cada leitor de forma única e não há uma mais adequada do que a outra.
Neste momento, a equipe da Biblioteca do Colégio gostaria de compartilhar como tem vivido este período e também apresentar algumas indicações de livros que podem fazer companhia àqueles que estiverem com desejo de leituras, ou, ainda, despertar a curiosidade ou a vontade de alguns em voltar a ler.
Começamos pelo depoimento muito sincero de nossa bibliotecária Fabiana de Moura Silva:
“O bombardeio de más notícias pode nos deixar angustiados e com dificuldades de concentração. Eu senti isso na pele; nas últimas semanas, a inquietação tomou conta dos meus dias, várias vezes pegava o livro para ler, mas a leitura não rendia, precisava estar ocupada o tempo todo, não conseguia ficar parada por mais de 10 minutos para ler ou assistir a um filme. Quando finalmente consegui me reencontrar com a leitura, a minha mente se aquietou e a serenidade se fez presente. Sim, a fantasia é simplesmente necessária para seguirmos sãos.”
A experiência da Fabiana nos fez lembrar da fala de Antonio Candido, professor e e crítico literário brasileiro mundialmente reconhecido, que afirmava que, assim como o sonho permite o equilíbrio psíquico, a “literatura como sonho acordado da humanidade” permite o equilíbrio social. E talvez, neste momento, seja uma necessidade.
Para Joelsa Viana Serafim, a Jô, “a literatura pode oferecer uma ‘carona’ para observarmos algo que a COVID-19 fez instaurar na sociedade hoje, o isolamento social”. Sendo assim, as leituras sugeridas são de histórias em que as personagens, reais ou fictícias, de diferentes modos, tiveram que experimentar essa restrição.
A seguir, confira a seleção de livros feita por nossa equipe:
O amor nos tempos do cólera
Autor: Gabriel Garcia Marquez
Editora Record
Uma aventura épica de amor, nada romântico, marcado por um triângulo amoroso de personagens contraditórios e preconceituosos. O autor consegue carregar muito amor nas páginas e retrata o lado sombrio deste sentimento, que se desenvolve num cenário hostil com morte, miséria e mesquinhez em uma Colômbia que passa por guerra e um surto epidêmico, a cólera. Gabriel Garcia Marques traz o realismo de maneira poética para as cenas desse romance e destacamos um trecho em que “a vida parece imitar a arte”:
(…) naquele ano estourara mais um episódio da guerra civil intermitente entre liberais e conservadores e o capitão tomara precauções muito severas para a ordem interna e a segurança dos passageiros. Procurando evitar equívocos e provocações, proibiu a distração favorita das viagens daquele tempo.
(…) As restrições se tornaram ainda mais drásticas para lá do porto de Tenerife, onde cruzaram com um navio que desfraldava a bandeira amarela da peste. O capitão não conseguiu obter nenhuma informação sobre aquele sinal alarmante, porque o outro navio não respondeu aos seus sinais. Mas nesse mesmo dia encontraram outro com carga de gado para a Jamaica, e este informou que o navio com a bandeira da peste levava dois doentes de cólera, e que a epidemia causava estragos no trecho do rio que ainda lhes faltava navegar. Então foi proibido aos passageiros deixar o navio não só nos portos seguintes como ainda nos lugares despovoados onde arribava para carregar lenha. De modo que no restante da viagem até o porto final, que durou outros seis dias, os passageiros contraíram hábitos carcerários.
(…) Era sempre assim: qualquer acontecimento, bom ou mau, tinha alguma relação com ela [Fermina Daza]. À noite, quando se atracava o navio e a maioria dos passageiros caminhava sem alívio pelos conveses, ele repassava quase de memória os folhetins ilustrados debaixo do lampião de gás do refeitório, que era a única luz acesa até o amanhecer, e os dramas tantas vezes relidos recobravam a magia original quando substituía os protagonistas imaginários por conhecidos seus da vida real.
O diário de Anne Frank
Autora: Anne Frank
Editora Record
Anne Frank, adolescente judia e nascida na Alemanha, começa seu diário relatando as questões que norteiam os interesses de uma garota com 13 anos; e também com questões de contexto como a ascensão de Hitler, o regime nazista e o crescimento do antissemitismo que influenciou a sua curta trajetória de vida e a história de um povo.
Otto Frank, seu pai, se vê diante de uma tragédia anunciada, resolve refugiar sua família e alguns amigos judeus, totalizando oito pessoas, em um espaço reduzido, quase claustrofóbico, que ficava atrás de uma prateleira do armazém onde trabalhava, chamado no livro de Anexo Secreto.
Lá, Anne Frank registra em seu diário os desafios (isolamento social forçado) que ela e os outros passaram: conviver com a angústia, a racionalização de alimentos e condições precárias durante 2 anos até o Anexo ser descoberto pela GESTAPO e todos serem levados para campos de concentração. Seu pai foi o único daquele grupo que sobreviveu ao holocausto.
Anne Frank emociona seu leitor com os relatos minuciosos, escreve sem reservas sobre tudo que estava acontecendo, do que gostava ou não gostava e a esperança de tudo acabar logo para publicar seu livro, o que só ocorreu após o fim da guerra quando Otto Frank recebeu o diário da filha e Anne já estava morta.
Cem dias entre céu e mar
Autor: Amyr Klink
Editora: Companha das Letras
Imagine passar cem dias sozinho em um barco… Este livro é a narrativa de viagem de Amyr Klink, que em 1984 cruzou o oceano Atlântico em seu barco a remo, o Paraty. É um livro de memórias que narra uma aventura, recheada de superação e determinação. Além de um encontro consigo mesmo e com a natureza, Amyr nos faz refletir sobre a solidão, o isolamento e de como ser feliz com pouco.
Recentemente a editora disponibilizou este livro em áudio, narrado pelo próprio autor. Por tempo limitado, o podcast pode ser ouvido no serviço de streaming da Rádio Companhia ou adquirido em plataformas de audiobooks.
Para um aperitivo, o trecho abaixo descreve de maneira sensível uma emoção que está longe de ser simples.
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Quarenta dias, sem ver um rosto humano e nem me dei conta disso! …
… Ali, de onde eu estava, tudo se tornava muito divertido. Um engarrafamento no Anhangabaú me parece tão emocionante quanto percorrer a Transamazônica! Mas estranhamente não sentia falta de nada. Aos poucos percebi que entrava em equilíbrio com o mundo à minha volta.
… Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão… atacado de uma veroz saudade… Mas as vezes saudade faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudade, mas não estará só.
Quarto
Autora: Emma Donoghue
Editora Verus
O quarto é a casa de Jack, onde ele nasceu e vive há cinco anos com sua mãe. Mas também é a sua prisão. Para aliviar um pouco o sofrimento, a mãe inventa histórias e usa a criatividade para tornar seus dias menos cruéis. Em tempos de isolamento social, este livro nos faz refletir sobre a importância de valorizar a nossa liberdade, além de ser uma narrativa forte de amor incondicional de uma mãe pelo filho. Traz, ainda, o olhar cativante de uma criança sobre uma história cruel.
Em 2016 o livro foi adaptado para o cinema como O quarto de Jack. Indicado a vários prêmios, ganhou o Oscar de melhor atriz.
Mania de explicação
Autoras: Adriana Falcão e Mariana Massarani
Editora Salamandra
“Solidão é uma ilha com saudade de barco”.
“Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração”.
“Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair do seu pensamento”.
“Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo”.
De forma leve e bem-humorada a autora traz o olhar de uma garotinha que tentar explicar o sentido de algumas palavras como solidão, saudade, ansiedade, angústia… Sentimentos difíceis de lidar e que muitas vezes são internalizados pelas crianças.
Este livro pode abrir uma boa oportunidade de conversa entre adultos e crianças sobre tais sentimentos e também a possibilidade de inventarem muitas outras definições criativas e pessoais, que só as crianças conseguem imaginar.
Com lindas ilustrações é um livro para ler junto, em família!
Robinson Crusoé
Autor: Daniel Dafoe
Editora Penguin
Um clássico, que há gerações encanta leitores pelo mundo Escrito no século XVIII, este livro narra as aventuras de um marinheiro inglês que parte para desbravar o Novo Mundo, porém, seu navio naufraga e ele se vê sozinho numa ilha desabitada por humanos.
Nesta ilha, ele terá que lutar para sobreviver. Isolado por 28 anos, Crusoé aprende novas habilidades, tem que lidar com a solidão e com as descobertas diárias sobre onde vive e sobre si mesmo.
É possível acessar esta obra gratuitamente em versão digital, pois ela já faz parte de acervo de domínio público.
Livrarias com serviço de entrega em domicílio:
Nesses tempos de restrição, fazer compras em estabelecimentos que não fazem parte de redes ou grandes conglomerados é uma boa oportunidade de apoiar pequenos comércios. Listamos pequenas livrarias que continuam vendendo livros, com serviço de entrega em domicílio:
Novesete
(11) 5573-7889 / 3567-4344
@livrarianovesete
Mandarina
(11) 3819-5953 / 99609-2031
Zaccara
(11) 3384-0908 / 3872-3849 / 98338-5960
@livrariazaccara
PanaPaná
(11) 94536-4921
@panapana_livraria_infantil
Casa de Livros
(11) 5185-4227 / 98335-9260
@casadelivros_livraria
Movimento Literário
(11) 98335-9257
@movimentoliterario_
Esperamos que façam boas leituras, agora ou em outro momento mais oportuno!
Equipe da Biblioteca do Colégio Santa Cruz, abril de 2020