Educação como amor, vida e obstinação

Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães (1945-2010)

No dia 27 de julho de 2010, a bandeira do Colégio Santa Cruz a meio-mastro indicava o luto da escola: um dia antes havia falecido, aos 65 anos, seu Diretor Geral, prof. Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães, o Eduardão, depois de anos combatendo um câncer.

Bandeira a meio-mastro em 27 de junho de 2010

Luiz Eduardo entrou na escola em 1969, recém-formado em Física pela USP, para lecionar Matemática e Física. Dentro da sala de aula, cultivou entre seus alunos tanto uma imagem de respeito que seu tamanho e sua voz grave impunham, razão pela qual foi apelidado de “Eduardão”, como a nítida percepção de que havia nele espaço para acolhimento e escuta: sua abertura para ouvir, seu interesse autêntico pelos outros, sua disposição para compartilhar sonhos.

“Eduardão”: professor rígido, mas acolhedor

Eduardo e Malu com alunos do Ensino Médio

Ele presenciou mudanças estruturais do Colégio, que, em 1974, ampliou significativamente sua dimensão educadora tornando-se misto (foi exclusivamente masculino por mais de vinte anos) e abrindo os cursos Primário (atual Ensino Fundamental 1) e Supletivo (atual Educação de Jovens e Adultos, totalmente subsidiado).

Paisagem da escola nos anos 1960

Sua carreira na administração escolar começou a se desenvolver também no Santa Cruz, em 1973, quando os padres canadenses que fundaram o Colégio vinte anos antes iniciaram um progressivo processo de laicização dos cargos de direção. Na equipe diretiva, contou com a inspiração da dupla de padres Corbeil e Charbonneau: a austeridade, a disciplina e a seriedade de um, aliadas à ousadia, à inovação e à profundidade do outro. O professor Luiz Eduardo, que aglutinava essas características com equilíbrio e tenacidade, foi escolhido e preparado para sucedê-los na Direção Geral do Colégio, o que ocorreu em 1993.

Paisagem da escola nos anos 2000

Como diretor, foi responsável por investir no aperfeiçoamento do projeto pedagógico: criou centros de Tecnologias, implementou a Educação Infantil, modernizou a Biblioteca, construiu o Teatro; aumentou consideravelmente o tempo e os espaços de atuação educativa. Foi o “fundador do Colégio Santa Cruz do século 21”, na opinião sábia do padre José de Almeida Prado, no Colégio desde 1954.

Também foi inovador ao formular um Programa de Prevenção ao Uso de Drogas, num tempo em que o tema ainda provocava temor entre diretores de escolas e que os especialistas precisavam ser encontrados no exterior.

Foi igualmente ousado ao incluir na grade curricular obrigatória uma vivência de ação comunitária voltada à formação ética e à consciência sócio-política do corpo discente.

Mas ao lado dessa educação mais arrojada, que aponta para o futuro e que nasce da interação contínua com as necessidades e expectativas presentes, Luiz Eduardo sempre praticou um projeto educacional fundado nas tradições da cultura humanista do passado.

Paisagem da escola nos anos 2010

Luiz Eduardo, Flávio Facca e Paulo Autran, na inauguração do Teatro em 2002

Sua dedicação à causa da educação levou-o a assumir outras responsabilidades, além do Colégio Santa Cruz, com destaque para sua atuação, desde 1986, no Conselho Estadual de Educação, dirigindo câmaras, comissões e o próprio Conselho, que presidiu de fevereiro de 2004 a agosto de 2005.

Eduardo em reunião com os religiosos de Santa Cruz, Flávio Facca e Fábio Aidar

Dessa forma, suas reflexões sobre os mais diversos temas educacionais tornaram-se públicas e permitem, ainda hoje, entrar em contato com suas preocupações generosas, com seu sonho largo e com sua entrega paciente à construção de uma sociedade mais justa.

A educação, nesse sentido, só pode ser praticada com compreensão e diálogo, firmeza e sabedoria, crítica e estímulo. Não apenas no Alto de Pinheiros, onde pulsam as ideias e cresce a juventude do Colégio Santa Cruz. Não apenas no Conselho Estadual de Educação, onde atuou por mais de vinte anos. Mas nesse sentido abrangente que enreda a educação com a vida, o amor, a obstinação.

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