Padre Roberto Grandmaison chegou ao Brasil em 1968 e logo foi morar no bairro do Jaguaré, na periferia de São Paulo. Lá, dedica-se de corpo e alma ao trabalho pastoral. Preside o Centro de Ação Sócio-Educativa (CASE), é coordenador do Programa Jaguaré Caminhos e, por isso, responsável por dois Centros de Educação Infantil (CEI), dois Centros da Criança e do Adolescente (CCA), um Centro de Inclusão Educacional (CIE) e um Centro Cultural e Profissionalizante (CCP). No total, atende quase mil crianças, adolescentes e jovens. Ao completar 45 anos de ordenação, concomitantemente com o aniversário de 64 anos do Colégio, o incansável padre ganhou um saboroso perfil, “Padre Roberto: fermento na massa”, parte da série “Santa Cruz de perfil”, escrito pelo jornalista e ex-aluno da escola Camilo Vannuchi. A seguir, à guisa de aperitivo, leia uma pequena entrevista com Roberto.
Padre Roberto, por que o Brasil?
Eu sou de Montreal, no Canadá. Enquanto estudava filosofia, pensava em ir para Bangladesh. Depois, fiz teologia e, no decorrer dos estudos, sempre me preocupei em acompanhar o noticiário internacional. Terminei os estudos em 68 e os padres me pediram para ir para a América Latina. A Congregação de Santa Cruz atuava em dois países: Haiti e Brasil. Optei pelo Brasil.
Como foi a chegada?
Quando eu e Padre Lourenço, meu colega de congregação, chegamos ao Brasil, sem falar uma palavra de português, fomos encaminhados ao Centro de Formação Intercultural, o Cenfi, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Lá, conviviam mais de 70 padres, irmãs e missionários de todo tipo, para aprender a língua e começar a se familiarizar com a cultura brasileira. A base do meu português sai daí.
Você pegou rápido a nossa língua?
Eu sou da parte francesa do Canadá e o francês e o português pertencem à mesma família de línguas. Logo que cheguei, as pessoas me perguntavam se havia tempo que eu estava no Brasil e comentavam que eu falava muito bem o português. A gentileza é um traço do brasileiro. Depois de 2 ou 3 anos, essas mesmas pessoas me confessaram que não entendiam nada do que eu falava (risos).
E como o senhor foi parar no Jaguaré?
Cheguei a São Paulo, e ao Colégio Santa Cruz, em 13 de dezembro de 1968, data importante na política brasileira, que ficou conhecida como o “golpe dentro do golpe”. O Cenfi havia sido fechado às pressas devido ao grande número de estrangeiros que ali viviam. Eu e Padre Lourenço fomos recebidos pelo Padre Corbeil. Era época de férias e o Colégio estava vazio. Apesar da hospitalidade, do conforto das instalações e da beleza do campus, eu queria mesmo era me aproximar das comunidades. No Jaguaré, havia a Paróquia São José e fui para lá. Passei os seis primeiros meses andando pelo bairro para me aclimatar e posso dizer que ele é um microcosmo brasileiro.
O senhor também morou em uma comunidade?
Sim, passei seis anos na Vila Nova Jaguaré, a favela do bairro, onde moram mais de 12 mil pessoas. Fui me inserindo na vida da comunidade e de seus moradores. Não adianta sonhar, tem que botar a mão na massa e o pé no chão. É a famosa relação entre teoria e prática.
E como começou o trabalho de atendimento à população?
Isso está de acordo com a mentalidade dos padres de Santa Cruz. Sempre fomos envolvidos com uma proposta educacional que atendesse a todos os aspectos da formação de uma criança, e também da família. Começamos com meios muito rústicos, dando aulas de reforço e tentando evitar a evasão escolar. Com a colaboração da Congregação de Santa Cruz, do Colégio e da Paróquia São José, fomos aumentando nossa atuação. Hoje, temos uma equipe de mais de 90 pessoas e atendemos quase mil crianças, adolescentes e jovens. Nossa proposta é formar cidadãos e cidadãs com metas, critérios e valores para transformar a sociedade.
Quais os planos para o futuro?
Continuar trabalhando na realização dos projetos do Programa Jaguaré Caminhos. Eu costumo dizer que nós fazemos a metade de uma gota d’água, mas tem que ter essa metade. Estou contente de ver os resultados, mas o desafio é muito grande.