No reino das águas turvas

                Muitos adultos carregam hoje memórias afetivas em relação à obra de Monteiro Lobato, em especial aos episódios do Sítio do pica-pau amarelo exibidos na televisão. As estripulias de Emília, as aventuras de Pedrinho e Narizinho, as receitas de Dona Benta preparadas pela Tia Nastácia e as confusões do Saci e da Cuca fazem parte do imaginário de várias gerações que cresceram em contato com a obra do autor. No entanto, desde o início deste século, questões relacionadas ao preconceito racial presente nas histórias de Monteiro Lobato têm sido levantadas.

                Na noite do dia 27 de setembro, as convidadas do webinar “Qualidade literária e racismo nos livros de Monteiro Lobato”, Heloisa Pires Lima e Cristiane Tavares, expuseram, com a mediação de Bel Santos Mayer, aspectos desse complexo tema.

                As duas abordaram o impacto da leitura dos livros do considerado patrono da literatura infantil especialmente para as crianças negras e a relação entre ética e estética.

Heloisa Pires Lima expôs figuras da Tia Nastácia, mostrando como se deu a construção de uma imagem negativa da personagem, por exemplo, com a ênfase nos “beiços”; ela comentou também sobre a internalização do preconceito que esse tipo de leitura pode causar e sobre o “bom convívio com o racismo”, que marca a sociedade brasileira.  Ela destacou, ainda, aspectos da biografia do escritor, que apoiava ideias eugenistas e chegou a elogiar a Ku Klux Klan.

Cristiane Tavares afirmou a necessidade de práticas de leituras antirracistas para a construção de uma sociedade mais justa e a importância de obras que provoquem o deslocamento das relações de poder.

As convidadas enfatizaram a riqueza da literatura infantojuvenil brasileira e apontaram que muitos excelentes escritores não têm o justo reconhecimento.

Assista ao vídeo do evento e acesse as referências e o material de apresentação das convidadas.        

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